A NOIVA DA CAVEIRA E O 4º MANDAMENTO BÍBLICO

Mística Literária

Nov 26, 2024 - 14:42
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A NOIVA DA CAVEIRA E O 4º MANDAMENTO BÍBLICO
(Imagem gerada por IA no ChatGPT)


A NOIVA DA CAVEIRA (1910) é um conto do folclore africano escrito pelo talentoso escritor e administrador colonial britânico Elphinstone Dayrell (1869-1917) que se dedicou ao estudo do folclore africano, com foco nas tradições da Nigéria. O enredo curto trata de uma filha que desobedeceu os pais e se casou com uma caveira. 

Todos queriam se casar com uma moça bonita chamada Afiong, mas ela era muito exigente e recusava todos os pretendentes, mesmo diante dos conselhos dos pais. “Era muito vaidosa e dizia que só se casaria com o homem mais bonito da região, que teria que ser jovem e forte, e capaz de amá-la como ela merecia”.

Até que uma caveira, que vivia na terra dos espíritos, soube da beleza da virgem negra e a desejou. Assim, resolveu pegar emprestado com seus amigos as melhores partes de seus corpos: 

“[...]de um, ele pegou uma boa cabeça, de outro, um corpo, e de um terceiro, braços fortes; de um quarto amigo, pegou um belo par de pernas. Por fim, ficou completo e se tornou uma espécie masculina totalmente perfeita”. 

Posteriormente, foi até à cidade e Afiong logo se apaixonou pela beleza falsa da Caveira que pediu sua mão em casamento. Primeiro seus pais negaram, pois o homem era um completo desconhecido, mas depois acabaram concordando por causa da teimosia da filha. 

Quando o homem caveira disse que teria que levar a noiva para uma cidade longínqua os pais tentaram convencê-la a não ir, mas sem sucesso. Somente depois que Afiong partiu que os pais descobriram que o genro pertencia ao mundo dos espíritos e que ela estaria destinada à morte. Infelizmente, não podiam fazer mais nada. 

Após a Caveira e sua noiva atravessarem a fronteira entre humanos e espíritos, os amigos pediram seus membros de volta e a Caveira ficou nua, expondo sua feiura. Afiong ficou espantada e quis voltar para casa, mas seu noivo não deixou e a levou para uma casa em que também morava sua mãe. A mãe dele era uma idosa que se tornou amiga da nora que passou a ajudá-la em tudo.

A senhora estava sentindo muita pena da moça e preocupação, pois os espíritos eram canibais e quando soubessem que uma humana estava entre eles iriam comê-la. Em virtude disso, passou a escondê-la e prometeu mandar Afiong de volta para casa sob a condição de que não ser mais desobediente. Prontamente a bela moça concordou e então sua sogra fez um feitiço para que um vento a lavasse para casa. Assim foi feito. 

Quando os pais reencontraram Afiong ficaram repletos de alegria, pois já não tinham esperanças. Desde então a filha passou a obedecer os pais e seguiu o conselho do pai para se casar com um amigo dele, tendo vivido muitos anos com seu marido e filhos. 

É possível extrair duas valiosas lições desse belíssimo conto de origem africana. A primeira é que a vaidade cega o que realmente é importante. A beleza é uma vil ilusão humana enquadrada em um padrão do que seria a perfeição em algo ou alguém.  Já a segunda lição chama bastante atenção, pois cuida da OBEDIÊNCIA AOS PAIS. 

Dentro desse conto tem um dos mandamentos bíblicos mais belos, o 4º mandamento: HONRAR PAI E MÃE. Está estampado em Êxodo 20, 12 e em Deuteronômio 5, 16: “Honra teu pai e tua mãe, para que sejas feliz e tenhas longa vida sobre a terra”.

Independente da religião, respeitar os pais é de suma importância e pode sim aumentar nossa expectativa de vida. Quase que a personagem Afiong morreu por não obedecer seus pais. Não ocorre isso apenas na ficção das histórias, mas também na vida real. Os pais muitas vezes conseguem identificar os perigos a nossa volta antes de termos qualquer desconfiança. Acredito ser um dom. 

Esse conto está disponível gratuitamente no site da Amazon e foi publicado pela Editora Wish com o título “A NOIVA DA CAVEIRA e outras histórias antigas” (https://www.amazon.com.br/Noiva-Caveira-outras-hist%C3%B3rias-antigas-ebook/dp/B08Q3BQD1X). 

Vale a pena sair da bolha de contos e histórias apenas europeias e americanas. Devemos conhecer mais sobre a cultura africana que também é rica em histórias fantásticas. 

Francielle Ferreira