Ex-combatente da II Guerra concede entrevista ao 'CCO'

Em junho de 2006, o 'CCO' publicou entrevista com o ex-combate de guerra arcoense, Inácio Santos Neri, conhecido como 'Inácio Espadilha', que em 1944 embarcou para a Itália, para lutar na II Guerra Mundial. O ex-soldado falou sobre os horrores vividos por ele durante o período de um ano em que ele serviu ao Exército Brasileiro. Veja trechos da entrevista concedida pelo ex-combatente.
A dor da partida - Em 1942, Inácio Santos Neri, aos 20 anos, foi convocado para se apresentar ao Exército na cidade de São João Del Rei-MG. "No dia em que fui embora, minha mãe ficou tão triste que acabou ficando com a cabeça ruim" - comenta Inácio. No dia 07 de setembro de 1942, na cidade de São João Del Rei, Inácio juntava-se a outros militares que, meses depois, se deslocavam para a cidade do Rio de Janeiro onde ficariam por oito meses em treinamento.
Em 1944, já com a guerra declarada, Inácio embarcava rumo à Itália em um navio com tripulação de sete mil soldados, liderado pelo General Meiga. "Fiquei no compartimento 15L, que ficava no fundo do navio. A viagem tinha previsão para durar 18 dias, mas por causa da ameaça de ataque de um submarino tivemos que mudar a rota e gastou mais dois dias" - lembra.
20 dias de viagem dentro de um navio
Depois de quase um mês de viagem, o navio que levava a tripulação ancorou na cidade de Pisa. De início, comentou Inácio, 'a ordem era para que todos descansassem da viagem, mas fomos atacados e tivemos que responder'.
Depois de duas investidas de nossas tropas, conseguimos tomar o controle do Monte Castelo", relembra o ex-combatente, que naquele dia se encontrou com o 'Sinhô', outro arcoense que estava dirigindo um caminhão. "Perguntei-lhe o que estava fazendo e ele me disse que foi mandado para aquele lugar. Naquele momento, começaram a explodir bombas e granadas bem próximo de nós". Naquela altura, Inácio, o servente de pedreiro que nunca havia manuseado uma arma de fogo, estava em meio à guerra e sua defesa era uma metralhadora. Em seguida, veio a ordem do comandante para atacar as cidades italianas de Montense, Colletta, Solta e Tolrino. "Foram mais de 32 horas de combate até chegarmos à cidade de Tourino, onde foi encontrado o corpo de Mussolini, que estava esquartejado" - disse Inácio, referindo-se ao ex-líder fascista. "Ficávamos na linha de frente escondidos dentro de trincheiras aguardando ordens de ataque", lembra.
"Infelizmente, para salvar minha vida, tive que matar"
Sobre as comparações entre as cenas que viu na guerra e as exibidas em produções cinematográficas, Inácio comenta: "Na TV não passa nada em relação às coisas que vi na guerra. Quando cheguei próximo à Torre de Solta, vi inúmeras pessoas mortas jogadas ao chão. Infelizmente, para salvar minha vida tive que matar. Enquanto os inimigos davam um tiro, eu respondia com dez. Trabalhei muito com o gatilho".
Inácio conta que chegou a ser atingido por uma bala que ultrapassou seu capacete. "Fiquei nove dias na enfermaria desacordado, mas quando me recuperei, voltei à guerra", conclui.