Halloween: bispo católico e pastor recomendam que a data não seja comemorada
O CCO ouviu o bispo da Diocese de Luz, um pastor que congrega em Arcos e um diretor de escola

"As perigosas mensagens do halloween" é o título de um artigo divulgado em 2009 no jornal oficial do Vaticano, "L'Osservatore Romano". No texto, foi publicada uma citação do padre/perito litúrgico Joan Maria Canals: “O Dia das Bruxas (ou Festa de Halloween) é uma corrente do ocultismo e completamente anticristão”.
Padre Canals “pediu que os pais fiquem atentos e tentem direcionar os significados da festa para a saúde e a beleza em vez do terror, do medo e da morte”. A publicação foi feita em vários sites na grande mídia, em outubro de 2009.
Nesta semana, o CCO recorreu ao bispo da Diocese de Luz, na qual Arcos está inserida, para abordar o tema. Perguntamos se a Igreja Católica orienta que católicos não devem participar e nem permitir que as crianças participem. Dom José Aristeu Vieira respondeu afirmativamente e justificou: “Sim, é desaconselhável. É sem sentido! Por quê? Primeiro é uma comemoração primitiva, tudo indica que vem dos celtas, antes do cristianismo. Essas comunidades das ilhas britânicas, não tendo uma religião de verdade, homenageavam os monstros, em que acreditavam. Isso revela que há em nós sempre a precisão de referir-se a um ‘superior’’”.
Na sequência da resposta, Dom Aristeu explica: “Não tem nenhum sentido para cristãos. Temos uma fé tão consistente, tão rica, presenteada pelo próprio Deus, revelada em seu filho Jesus Cristo, que veio habitar entre nós e contar tudo sobre Deus, sobre nós mesmos, portanto, não precisamos homenagear seres desconhecidos, pois conhecemos nosso Deus”.
Ele cita um segundo motivo pelo qual a igreja católica desaconselha a participação em eventos de halloween: “Não é aconselhável, porque mesmo que para uns, halloween é simplesmente um folclore, oportunidade de festejar, de fazer criatividade, como promover o comércio, para outros grupos pode ser oportunidade de aprontar maluquices e expressar rebeldias e criatividade de maldades. Sim, claro!”.
E quanto à realização de festas e brincadeiras nas escolas, com esse tema?
Dom José Aristeu salienta: “Para nós, católicos, ela não tem sentido, não acrescenta nada. Porém, se é só folclore, como vejo nas ESCOLAS, e se não levar conteúdo de superstição sem sentido, como crer em ‘bruxas’, não vejo nenhum problema”.
“Doces ou travessuras?”
Uma escola de inglês e espanhol em Arcos realiza a brincadeira. O CCO falou com o diretor, Paulo Fazzi. Ele comentou sobre a origem da festa, há mais de 3 mil anos, com os festivais realizados pelos celtas, povo que acreditava em diversos deuses. “Os eventos marcavam a passagem do ano e a chegada do inverno. Acreditando que os mortos voltavam para amaldiçoar seus animais e suas colheitas, usavam símbolos do Halloween para afastar esses maus espíritos”.
Paulo explica que a comemoração com os alunos é para difundir a cultura dos países de língua inglesa. “A sua principal prática dá-se com as crianças fantasiando-se e indo de porta em porta pedindo doces para as pessoas, dizendo ‘Trick-or-treat?’ (doces ou travessuras?). O pedido de doces está relacionado com a antiga tradição celta”.
Segundo o diretor, a brincadeira ‘Trick-or-treat’ acontece com mais frequência nos EUA, na Irlanda e no Canadá. “As crianças vão de casa em casa, fantasiadas de bruxas, vampiros, fantasmas. Normalmente, ganham os doces. Contudo, se o morador não tiver doces ou ignorar o pedido, pode receber uma travessura. Comemoramos o Halloween por acreditarmos que é uma ‘festa’ importada que nada tem a ver com a nossa cultura e muito menos nada tem a ver com religiosidade ou mesmo com a fé. Entendemos que os princípios do Halloween não têm nenhuma sintonia como prática de fé e religiosidade”, conclui.
Igrejas Evangélicas também não aprovam
Falamos com o pastor Ademir Donizete Camargos, presidente do Conselho de Pastores das Igrejas Evangélicas de Arcos. Ele disse que a Bíblia orienta para “fugirmos da aparência do mal”. Salientou que existem estudos relatando o que está por trás do Halloween, “que são maldições”. “Orientamos as famílias a não permitirem que as crianças participem. Não provém de Deus, não agrada a Deus”.
Práticas satânicas na noite de 31 de outubro
Em vídeo disponibilizado no You Tube há três anos, o padre exorcista Duarte Lara relata sobre o ‘ano satânico’, “que começa na noite do Halloween [31 de outubro] às 3 horas da manhã”. O padre informa o que ouviu: “É a noite de todo o ano satânico em que se fazem mais sacrifícios humanos ao demônio; matam-se pessoas em honra de satanás. Tem jovens que engravidam sete meses antes do Halloween com o único objetivo de sacrificar os seus filhos ao demônio na noite de Halloween”.
Segundo o padre, essas informações são testemunhos de ex-satanistas que se converteram ao catolicismo e contaram o que eles próprios fizeram. “Um deles, eu postei até no meu canal do You Tube. Era um ex-satanista da Venezuela que se converteu. [...] No vídeo que postei, ele está falando aos pais da importância de não deixar os seus filhos participarem nas festas do Halloween, porque esse é o início do ano satânico e, de algum modo, você está como que jogando incenso para o inimigo, você está vestindo seu filho de bruxo; não faz sentido para um católico, os bruxos trabalham para o inimigo” – trecho do vídeo do padre Duarte Lara.
O padre falou de uma reação de escolas católicas a essa realidade. Na véspera de Todos os Santos, promovem a “Festa dos Santos”. Os alunos escolhem um santo católico e vão à escola vestidos de santos, é a festa “Todos os santos vencem”.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=xlfvJBRXaD8
É importante salientar que não está sendo dito, nesta matéria, que os eventos folclóricos de halloween realizados em escolas são satânicos. Existem diferentes finalidades com a comemoração, dependendo de quem promove e de quem participa. De fato, para muitos, é apenas tradição e diversão.
“[...] Há grupos que se utilizam desse folclore como oportunidade para outras práticas, como essa do satanismo [...] – disse o bispo Dom José Aristeu
Nos últimos anos, parecem mais frequentes, em redes sociais, postagens relacionadas ao satanismo – culto a satanás. Perguntamos ao bispo Dom Aristeu se a igreja católica tem percebido o crescimento do satanismo no Brasil e se o tema tem sido discutido. Ele respondeu: “Como dizia acima, há grupos que se utilizam desse folclore como oportunidade para outras práticas, como essa do satanismo. Já é a criatividade para o mal; coisas de gente louca, rebelde e portadores de certa rebeldia e mesmo de doenças mentais, que, na insanidade e na criatividade infeliz, praticam o culto satânico, chamando isso de religião. Mas nem preciso gastar argumentos para combater isso, pois fica logo claro o absurdo dessa iniciativa. Se tem crescido ou não, não tenho informação, não houve nada de importante e recente que tenhamos sido informados, para ter que fazer uma ação especial. Sei que tem algum ou outro padre exorcista muito preocupados, mas existe um princípio pastoral que se aplica em certos casos bem: há coisas que falar muito é divulgar e promover. Na nossa região, não há ocorrências disso, isso é coisa mais de capitais”.
Ao final da entrevista, Dom José Aristeu agradeceu pelas perguntas e fez um pedido: “Rezemos pelo fim das guerras, isso é que é o verdadeiro satanismo em nosso mundo moderninho, cheio de tecnologia e cheio de contradições, ainda alimentando superstições malsãs. Paz e bem! Creiamos em Jesus Cristo e no Deus de Jesus Cristo, e nem percamos tempo com essas criatividades sem utilidades e sem fundamentos”.
No início: intercessão pelos mortos
Em artigo publicado em outubro de 2016 pelo padre pernambucano Paulo Ricardo, formado em Filosofia e Teologia, mestre em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma) e autor de vários livros, é relatado que a moderna festa de Halloween avançou pelo mundo a partir dos Estados Unidos e da Inglaterra, “preservando muito pouco de seus elementos originalmente cristãos”. O padre narra que isso aconteceu porque a Rainha Elisabete I, que era protestante, desprezou a intercessão pelos mortos e proibiu os seus súditos (e fiéis) de participaram de quaisquer cerimônias que lembrassem o respeito e a reverência mortos. No entanto, “com isso, ao invés de eliminar os festivais que seu povo tão piedosamente celebrava, o que a Coroa conseguiu foi simplesmente desnaturar o Halloween de todo o seu sentido cristão, fazendo com que os ingleses retomassem, ainda que de forma mitigada, os cultos macabros que os celtas, seus ancestrais pagãos, prestavam aos mortos”.
Segundo a história descrita pelo padre, o “que havia sido, para os primeiros evangelizadores da Inglaterra, uma grande oportunidade de catequese, terminou se transformando, para as gerações vindouras, em flerte com o paganismo e causa de verdadeira perdição”.
“ Halloween” é a abreviatura das frases All Hallows ‘Eve ou All Hallows’ Evening – “Véspera de Todos os Santos” ou “Noite de Todos os Santos”. Porém, a palavra é traduzida como “Dia da Bruxas”.
Assista, também, a um vídeo do padre Paulo Ricardo sobre o tema: https://www.youtube.com/watch?v=QBSmI_qAV5E
“Rezemos pelo fim das guerras, isso é que é o verdadeiro satanismo em nosso mundo moderninho [...] Creiamos em Jesus Cristo e no Deus de Jesus Cristo, e nem percamos tempo com essas criatividades sem utilidades e sem fundamentos” – bispo Dom José Aristeu.