Monsenhor Eustáquio, que é padre e psicólogo, opina sobre temas polêmicos em entrevista ao Portal CCO Arcos

Set 16, 2024 - 10:14
Set 16, 2024 - 14:45
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Monsenhor Eustáquio, que é padre e psicólogo, opina sobre temas polêmicos em entrevista ao Portal CCO Arcos


O Portal CCO Arcos recebeu a visita de Monsenhor Eustáquio Afonso de Souza na quarta-feira, dia 11. Ele relembrou da época em que foi pároco em Arcos e também opinou sobre temas polêmicos em nível nacional. 

 “Monsenhor”, como é conhecido em Arcos, está com 81 anos de idade e 53 de sacerdócio. É natural de Martinho Campos e exerceu o sacerdócio em Arcos de dezembro de 1981 a 1997. Foram 16 anos no Município. 

Desde 2009, exerce a Psicologia em Lagoa da Prata. A partir de 2012, assumiu uma paróquia na mesma cidade, onde permanece desde então. 

Ele foi o confessor e psicólogo de gerações de arcoenses nas décadas de 1980 e 1990 e esteve à frente de obras importantes para a comunidade de Arcos, a exemplo de reforma da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, término da construção da Casa Paroquial, construção da Casa de Pastoral, construção da Igreja Santo Antônio. “Naquele tempo era só a Paróquia Nossa Senhora do Carmo e nós, com os paroquianos, fizemos aquela igreja”. 

Disse que a paróquia recebeu ajuda de muitos arcoenses naquela época, dentre eles, Toninho Chicri, Zeca Caetano e Chiquito Roque. Acrescentou que toda a comunidade contribuía, adquirindo rifas. Uma dessas rifas foi de uma vaca, que ficava exposta alguns minutos na avenida Governador Valadares, aos domingos, depois da missa da Igreja do Rosário. Eram momentos de diversão e oportunidade para crianças e também adultos tomarem leite tirado na hora e comprarem os bilhetes.

Experiências de fé e libertação 
  
Com o dom da palavra, as homilias de Monsenhor Eustáquio deixavam as igrejas lotadas, assim como as procissões da Semana Santa e a “Missa de Cura e Libertação”. 

A “Missa da Cura”, que era realizada semanalmente, atraía fiéis não somente de Arcos, mas também de cidades vizinhas. Os momentos de louvor e meditação tornaram-se experiências de fé e libertação, com inúmeros testemunhos. Monsenhor disse que esse tipo de celebração começou em 1975, na cidade de Matutina.

Nas escolas 

Também atuou na educação. Foi diretor do “Colégio Dom Belchior” por 18 anos e da escola estadual Dona Maricota Pinto por sete anos, além de ter sido orientador educacional.

A formação em Psicologia 

Antes de se tornar padre, Eustáquio estudou em Roma/Itália durante quatro anos, onde fez um curso de Psicologia baseado em Consciência de Medo e de Inferioridade, mas não podia clinicar, porque não tinha o registro profissional. Quando retornou ao Brasil, foi ordenado padre. Em certo período, deixou a Diocese e foi para Divinópolis, onde revalidou os estudos e obteve o registro de psicologia pelo INESP (Instituto de Ensino Superior e Pesquisa). Trabalha com Terapia Cognitivo-Comportamental, que é uma técnica Moderna – criada pelo americano Aaron Beck – e faz Abordagem do Inconsciente, criada por Milton Erickson, também americano. 

Aborto: “Eu, como sacerdote, não posso ir contra a orientação da Igreja”

Tema recorrente nas discussões entre progressistas, liberais e conservadores, perguntamos ao padre e psicólogo qual é a opinião dele sobre a prática do aborto, inclusive nos casos permitidos pela legislação brasileira – gravidez ocasionada por estupro, gravidez que representa risco à vida da mulher e em caso de anencefalia do feto. 

A princípio, Monsenhor respondeu: “Nesse caso, eu, como sacerdote, não posso ir contra a orientação da Igreja. A Igreja Católica não permite o aborto em nenhuma situação”. Ele citou o filósofo São Tomás de Aquino ao dizer: “Uma vez que houve a concepção, ali já é um ser vivo e a vida está nas mãos de Deus. A ciência pode avançar muito, mas tratando-se de vida mortal, como é a nossa, a Igreja diz: Não se pode tocar numa vida”.

Com o olhar voltado para o sofrimento da mulher que foi violentada, ele argumentou:  “Quanto à questão da mulher que aborta, tem um acolhimento maior. [...] Uma mulher, por exemplo, grávida por estupro, a mente dela está tão atordoada, que ela nem sabe como tomar uma atitude. Nisso, todo pecado é perdoado.  [...] É uma causa grave, mas a pessoa que cometeu esse ato grave é perdoada porque não sabia as consequências”. Nesse aspecto, ele mencionou que existem muitas circunstâncias, como a família e o medo da gravidez, que tende a ser tumultuada.

Nesse mesmo contexto, Monsenhor citou os casos de suicídio. “A pessoa não quer suicidar, não quer morrer, ela quer tirar dela um sofrimento. Nessa parte, entra o aspecto da psicologia, o atendimento”.

Criação de crianças “sem gênero”, para que elas decidam o que querem ser 

Outro tema polêmico que tem sido mais difundido nos últimos anos é sobre a identidade de gênero. O Portal CCO Arcos perguntou a opinião de Monsenhor Eustáquio sobre famílias que estão criando as crianças “sem gênero” – nem como menino e nem como menina – e que, para justificarem, argumentam que cabe a elas a escolha do gênero que querem ter.  A resposta de nosso entrevistado: 
“Se a criança nasce com o sexo masculino ou feminino, não se deve contrariar a vontade de Deus. A Igreja não aceita, porque aí contraria a vontade de Deus. Deus fez você mulher, Ele quer que você seja mulher”, exemplificou.  

Logo em seguida, disse que é diferente de aceitar duas pessoas do mesmo sexo vivendo juntas: a homossexualidade. “Por quê? ” Ele pergunta e responde: 

“A homossexualidade não é uma escolha. A pessoa não escolhe, ela tem uma preferência. Suzana Russel diz que 10% das pessoas têm uma inclinação para o mesmo sexo; e eu conheço pessoas do mesmo sexo que vivem maravilhosamente uma vida dois, bem melhor que muitos casais heterossexuais”. 

Ele disse que fará uma palestra em Arcos dia 19 de outubro: “A delicada máquina humana”, quando irá abordar o tema homossexualidade, atendendo aos anseios de muitas mães e pais que não aceitam. 
Sobre a possibilidade de adoção de banheiros unissex nas escolas, que é outro tema difundido nos últimos anos, Monsenhor comentou:

“Desde que haja respeito um pelo outro, tudo bem; não tem problema (risos)”.

Qual a orientação do senhor, na condição de padre e psicólogo, para pessoas que priorizam seus desejos pessoais em demasia, vivendo uma felicidade egoísta, levados pelo pensamento: ‘Tenho que me amar primeiro’. 

“Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. As pessoas têm as suas circunstâncias, por isso Jesus fala, no Santo Evangelho: ‘Não julgueis, para não seres julgados. Com a mesma medida que medires os outros, sereis medidos’. E Jesus fala: ‘Na Casa do Pai, há muitas moradas’. Somente Deus conhece o homem na sua profundidade, só ele pode julgar”.

Nesse contexto, embora a pergunta tenha sido aberta, ou seja, não foi relacionada à homossexualidade, Monsenhor voltou ao tema, dizendo que não vê nenhum mal na atitude dessas pessoas em buscarem a felicidade, mas orientou sobre a importância de serem recatadas. “Tem de dar prioridade à proteção ao seu corpo, que é templo de Deus. Não precisa ficar exibindo o corpo para pessoas que não têm nada a ver com ele (a)”.

O padre e psicólogo falou da importância da aceitação. “Na vida, tudo é aceitação. Aceitar Deus como nosso protetor, nosso Pai; e aceitar as coisas como são, porque a vida é muito breve”, concluiu.