Saibam quem foi Dr. Roberto Dias e o que ele fez por Arcos
Ao longo da trajetória dele, ações de assistência social, combate à desnutrição infantil e tantas outras na saúde pública

O médico Roberto Dias de Carvalho faleceu no dia 24 de dezembro, aos 74 anos.
Leia a adaptação de reportagem do Portal CCO Arcos publicada em 1º de março de 2022, a partir de entrevista com ele.
O médico Roberto Dias de Carvalho, aos 72 anos (em março de 2022), continuava em intensa atividade profissional na Santa Casa de Arcos, onde começou a trabalhar em 1980. Foram mais de 40 anos de carreira.
Depois da graduação em medicina, no ano 1976, integrou o staff de ortopedistas no hospital Felício Roxo, em Belo Horizonte, onde atuava clinicamente, era cirurgião e também participava de atividades acadêmicas, inclusive ministrando palestras. No início da década de 1980, pediu demissão e retornou a Arcos, sua terra natal. “Nunca tinha sido feita uma cirurgia ortopédica na cidade. Fui o pioneiro”, disse a uma jornalista do CCO, em outubro de 2019. Dr. Roberto contabilizou que tenha feito e participado de aproximadamente 20 mil cirurgias na Santa Casa.
No dia 7 de fevereiro de 2022, voltamos a entrevistá-lo. Ele disse que deixou de realizar cirurgias em 2020, mas continuou na função de anestesista, trabalho que desempenhava há 30 anos. Nesta reportagem abordaremos a participação do médico na política local. Foi vice-prefeito de Arcos por duas gestões – sendo a primeira ao lado de Dona Hilda Andrade (1º mandato: 1989/1992) e a segunda gestão com Plácido Ribeiro Vaz (3º mandato: 2005/2008). Contribuiu com o desenvolvimento de Arcos na esfera pública durante oito anos, nas duas alas políticas que ficaram à frente do Executivo Municipal por 29 anos consecutivos (1983 a 2012). Na época, a sucessão foi a seguinte: Plácido/Dona Hilda/Plácido/Dona Hilda/Lécio Rodrigues/Plácido/Claudenir Melo em sua primeira gestão: 2009 a 2012.
Dr. Roberto Dias disse que quando se tem a possibilidade e a oportunidade de fazer algo pela população, entrar na política torna-se praticamente uma obrigação. “Fica na memória alguma coisa de positiva, uma sensação de dever cumprido. Nunca ninguém teve a audácia de falar que a gente tivesse roubado um centavo”.
Na a primeira gestão de Dona Hilda, ele era bastante atuante. Chegou a assumir o Executivo por três meses, quando a prefeita precisou cuidar do marido em circunstância de uma cirurgia no coração.
Contribuição na saúde pública
Além de vice-prefeito, foi presidente da Fumusa – Fundação Municipal de Saúde e Assistência de Arcos (cargo de diretoria não remunerado), sendo responsável pela área de saúde pública no Município.
O secretário de Governo de Dona Hilda era o marido dela, Maurício Andrade, que havia sido deputado estadual por dois mandatos e federal por três mandados, entre 1947 a 1969. “Dr. Maurício era um homem de uma experiência fantástica e de uma capacidade imensa de antecipar o futuro. As ações basicamente eram deles (da prefeita e do marido). O que eu fiz foi como presidente da Fumusa”, informou.
Foi naquela época que o imóvel onde hoje funciona o Hospital Municipal São José foi comprado da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). O prédio recebeu as instalações do Posto de Saúde do Município, que antes funcionava em um espaço bem limitado.
Também na época, houve uma modernização na Fumusa, com investimentos no laboratório de análises clínicas, que era localizado na instituição.
Segundo Dr. Roberto, já existia no Município um programa para combater a desnutrição infantil: o CAD (Centro de Apoio ao Desnutrido), dirigido por Angélica de Sousa [que hoje trabalha na Administração Fazendária] e por Adalgisa Borges, a quem ele faz elogios pelo trabalho desenvolvido. Dr. Roberto contou que havia conhecido um projeto na cidade de Esmeraldas e decidiu implantá-lo em Arcos, junto ao CAD: a distribuição e o incentivo do uso de uma farinha enriquecida com cascas de ovos torradas (ricas em cálcio) e folhas de mandioca, que, conforme nos relatou o médico, tem uma quantidade de ferro muito maior e sem as contraindicações do sulfato ferroso. “O CAD funcionou muito bem. O Dr. Afonso Júnior, filho do Dr. Afonso Álvares Peres, era entusiasmado com a medicina social e ia para a cozinha [no então Posto de Saúde], levava as mães para ensiná-las a fazer sopas e ensinava como que iam usar. Ele mesmo cozinhava as folhas de beterrata, beldroega e outros alimentos alternativos”, comentou Dr. Roberto. “O que eu fiz foi dar corda”.
Adalgisa Borges disse ao CCO que o CAD foi desenvolvido em Arcos por mais de 10 anos. Era feito o controle mensal de peso e altura, atendimento pediátrico, nutricional. Também eram ministradas palestras educativas e eram distribuídos suplementos alimentares como leite em pó, mingau, sopa e a farinha vitaminada citada por Dr. Roberto. Era um composto alimentar enriquecido com vários nutrientes, que era acrescentado nas principais refeições dessas crianças. No início do programa, foram acompanhadas, em média, 170 crianças. “Foram várias crianças acompanhadas e que recuperaram o peso, ao longo dos anos. Com o passar dos anos, esse atendimento foi absorvido pelas UBS (Unidades Básicas de Saúde)”, relatou Adalgisa Borges.
Planejamento Familiar – Na época, foi solicitado a Dr. Roberto Dias uma atenção especial com o planejamento familiar. “Nós instalamos o primeiro projeto de saúde da mulher em Arcos”.
Projeto inicial da avenida sanitária foi providenciado pelo pai do Dr. Roberto, na década de 1940
Foi também na gestão de Dona Hilda e Dr. Roberto Dias de Carvalho que se deu início à implantação do projeto da avenida sanitária em Arcos. “Participei na iniciação de projeto da avenida sanitária, que mudou Arcos”. A ideia inicial para a concretização dessa obra em Arcos foi do pai do Dr. Roberto, o cirurgião-dentista Moacir Dias de Carvalho, que foi prefeito em Arcos por duas gestões (7/04/1945 a 22/11/1945 e 18/03/1946 a 4/01/1947). “Meu pai, na época da 2ª Guerra Mundial, foi prefeito de Arcos, nomeado. Ele foi em Belo Horizonte para encontrar com o governador e ficou encantado com a obra que estavam fazendo em Belo Horizonte, uma avenida que circundava a cidade toda, que hoje não contorna mais. Ele trouxe essa ideia e fez um projeto inicial. Ficou guardado no almoxarifado da Prefeitura com o Fiico (que hoje é falecido) e algumas pessoas tinham conhecimento dele, como o Joaquim do Jarbas”, contou Dr. Roberto Dias. Ele também disse que o pai dele e outros políticos da época tentaram realizar a obra, mas não conseguiram. “Era sonho demais! Depois, Dr. Maurício desencravou esse projeto e fez alterações. […] Dr. Maurício era um sonhador. Sonhou e fez!”. Ao contar essa história, Dr. Roberto acrescentou: “Isso transformou Arcos! Como era uma obra grande demais, os outros governos continuaram (gestões de Plácido Vaz, Dona Hilda em seu segundo mandado e Lécio Rodrigues).
Casas populares: “Não tem uma sensação melhor do que chegar perto de uma pessoa e entregar a chave da casa dela”
Nosso entrevistado tem ótimas recordações das entregas de casas populares. “Eu adquiri, sob ordens da Prefeitura, o terreno onde foram construídas as primeiras 120 casas populares no Esperança I. […] Fui lá e negociei pelo ‘absurdo’ de 40 mil. Não sei qual era a moeda. Hoje não se compra a metade de um lote lá com o valor”, relatou, falando da satisfação em entregar as chaves para os futuros moradores. “Não tem uma sensação melhor do que chegar perto de uma pessoa e entregar a chave da casa dela. Tivemos a felicidade de fazer isso muitas vezes, tanto no governo do Plácido quanto no Governo da Dona Hilda. Na gestão da dona Hilda foram as primeiras e depois, na gestão do Plácido, foram outras”.
Atuação discreta na condição de vice-prefeito na gestão de Plácido
Quando Dr. Roberto Dias foi o vice-prefeito de Plácido Vaz, ele disse que teve uma atuação “infinitamente mais discreta”. “Dona Hilda cobrava mais minha presença lá. O Plácido tinha uma equipe muito boa, que o ajudava muito. Ele já tinha planejado o que queria, que era basicamente o término da avenida sanitária, que leva o nome do Dr. João Vaz Sobrinho (pai dele) e a remodelação do centro da cidade. Ele remodelou tudo, arrancou os calçamentos todos, fez asfalto em tudo”. Dr. Roberto disse que a maior parte dos recursos da Prefeitura, na época, foram investidos nessas obras e também em áreas rurais, na construção de pontes. “Plácido precisou se afastar uma época e fiquei no lugar dele na Prefeitura, por dois meses, mas tive o cuidado de seguir a mesma linha dele, sem querer mudar nada nas decisões normais. Nas decisões mais importantes, eu ligava para ele, porque o mérito era dele, a prerrogativa era dele”.
Pai do Dr. Roberto e pai do Plácido eram opositores políticos – Um fato curioso é que o pai de Dr. Roberto (Dr. Moacir Dias de Carvalho) e o pai de Plácido Vaz (Dr. João Vaz Sobrinho) eram opositores políticos. Dr. João foi médico e prefeito de Arcos nas gestões 1º/01/1948 a 31/01/1951 e 31/01/1955 a 31/01/1959. Ele era do partido UDN (União Democrática Nacional) e Dr. Moacir era do PSD (Partido Social Democrático). Cada um deles exerceu dois mandatos à frente da Prefeitura de Arcos. Dr. Roberto também contou que o pai dele era amigo de Dr. Maurício Andrade.
Embora existissem as questões partidárias, os opositores se respeitavam. Tanto é que Dr. Roberto Dias foi vice-prefeito tanto de Dona Hilda Andrade quanto de Plácido Vaz, sem nenhum constrangimento. O que havia era uma rivalidade grande entre eleitores de Plácido e eleitores de Dona Hilda. Quanto aos políticos, eles se respeitavam e até havia admiração mútua. “Dona Lázara Teixeira de Souza relatou ao Jornal Correio Centro-Oeste, certa vez, exatamente o que aconteceu, o que ela viu e o que eu vi. Primeiro: havia respeito absoluto um pelo outro. Ambos viram que eram pessoas de boa vontade e que queriam o bem da cidade, o progresso. E mais do que respeito, havia admiração mútua; ela admirava o Plácido. Eu fui vice de um e depois fui vice do outro. Nunca, eu e o
Plácido falamos uma palavra atravessada um para o outro”.
Vale lembrar que em setembro de 2019, em entrevista ao CCO, Plácido Vaz disse acreditar que tinha algo em comum com Dona Hilda. “Eu entrei na política para servir ao meu Município e não para me servir dele. Acho que Dona Hilda, da mesma forma, também entrou para servir ao Município”.
E por falar em partidarismo político, Dr. Roberto Dias nos respondeu que se identifica mais com a Direita. “O fator principal: tenho pavor da corrupção, pavor! Então, quantos presidentes de estatais foram presos por corrupção? O ex-presidente da República foi preso por corrupção”. Ele disse que sempre foi de direita. “Uma época eu fui mais moderado, fui de centro, mas moderado de direita…risos. Votei em Bolsonaro e voto de novo”.
Em certos contextos, os adeptos da esquerda se referem aos adeptos de direita como elitistas. Dr. Roberto Dias afirmou que não é elitista. “Eu não me considero elitista. Eu tive a sorte, a boa vontade e o esforço de estudar, de me formar, de fazer uma residência bem-feita, mas me considero um trabalhador absolutamente disciplinado. Tenho 42 anos de trabalho em Arcos. Levanto todos os dias às 6 horas e vou para o hospital e não tenho hora para sair. Então, sou um trabalhador – diferenciado, mas um trabalhador – e o que vejo é que o governo dele [Bolsonaro] estuda, vê a política internacional. Outras pessoas veem no Brasil, neste governo, uma perspectiva muito boa, e os daqui estão criticando […]”.
Centro Cirúrgico/UTI – Por que é tão difícil atrair especialistas para Arcos?
Ao falar dos serviços de saúde pública em Arcos, Dr. Roberto Dias comentou sobre a complexidade e o alto custo de alguns serviços. “A saúde é altamente complexa e muito cara. Quanto mais tecnologia, mais cara, mais difícil. Arcos é uma cidade pequena e isso já limita muita coisa, por exemplo: nós não temos neurologista fixo aqui, porque não tem demanda pra ele, não temos várias especialidades, as cirurgias são limitadas em muitos setores, pelo tamanho da cidade, pela falta de estrutura”.
Mas em uma avaliação geral, Dr. Roberto observou que mesmo diante das dificuldades, existe um empenho imenso, “quer da Santa Casa, quer no serviço público na Fumusa e na Secretaria de Saúde, para atender as pessoas de Arcos de forma plena”. “É logico que alguns vão ficar descontentes, vai haver alguma demora até conseguirmos achar. O que a gente sofre na Santa Casa, quando precisamos transferir um doente que não temos condições de tratar aqui, que não é da nossa especialidade e não conseguimos uma vaga fora… É um sofrimento intenso para nós, chegar na beirada do leito de um paciente que não melhora e está esperando uma vaga e a família aflita; a gente sofre junto”, comentou o médico.
Cientes da importância do novo Bloco Cirúrgico da Santa Casa, onde foi implantada a então UTI Covid, um dos questionamentos da população na época era quanto à necessidade de mais especialistas para diversificar o atendimento. Segundo Dr. Roberto, um dos fatores que dificulta essas contratações é justamente a incerteza da permanência da unidade. “Depois que tiver determinado que a UTI vai ficar aqui, a Santa Casa vai buscar especialistas fora. É importante falar do Dr. Luiz Fernando – que é um especialista – e Dr. Fabrini, especialista em Medicina Intensiva, um profissional de excelência, experiente, além de outros que eu esteja omitindo”.
Nesse sentido, Dr. Roberto Dias disse que os próximos desafios para a UTI de Arcos, quando se tornar definitiva, serão as questões financeiras. “O Baiano sonhou com a UTI e é através do sonho que vai. O desafio é financeiro. A Prefeitura vai ter que ajudar e ir atrás de profissionais, o que não acho difícil. Eles trabalham em regime de plantão”.
Dr. Roberto Dias citou, ainda, que a obra do novo bloco cirúrgico, onde foi adaptada a UTI Covid, foi iniciada com o apoio inicial do então prefeito e médico Roberto Alves e contou com o empenho dos demais prefeitos. “Começou com Roberto Alves, Denilson fez muito e Baiano terminou”, relatou, ao concluirmos a entrevista.